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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CONFIANÇA




            Encontrar uma pessoa confiável para assumir algum compromisso de valor. Contar com alguém de plena confiança. Esse, talvez, seja o desafio mais complexo nos dias de hoje. Confiar em quem? Eis a questão. Encontrar uma secretária de confiança, um companheiro, um administrador, um gerente, um mestre de obras, um chefe de sessão, e tantos outros.
            Felizmente ainda é possível à família poder contar com seu médico de confiança, com seu advogado, com um sacerdote, um pastor, alguém que guarde segredo de certas confidencias.
            Não está fácil confiar naqueles e naquelas em quem votamos para serem os governantes e administradores do bem comum. Muitos deles traíram, ou estão traindo, a confiança do povo causando decepções, insatisfação e até revolta. O povo não merece ser tratado dessa forma. Confiou e foi traído. Votou e foi roubado.
            É preciso estar atentos a esses e outros fatos para poder encontrar o melhor caminho. A vida ensina que é importante pensar seriamente antes de tomar alguma decisão. Ter paciência diante das dúvidas, moderar diante de tantas ofertas, ter bom senso diante de tantas escolhas, ter equilíbrio diante de tantos desafios. Como diz o dito popular: “É preciso confiar desconfiando”.
            Saber em quem confiar. Preparar as pessoas de quem almeja adquirir ou atribuir confiança. Pois a confiança e a mãe que gera grandes obras, grandes acontecimentos e grandes amizades. Ela perpetua relacionamentos e convivências construídos no amor sincero, no respeito profundo e na fé criativa. Ela eterniza o prazer de partilhar sentimentos e sonhos elaborados pela mente e pelo coração que se deixam iluminar e fortalecer pela graça de Deus.
            Deus confia em cada ser humano, em cada criatura. Mesmo que da parte do ser humano não haja a devida correspondência, ele sempre confiará. Pois cada ser humano e cada criatura são obra de suas mãos,  dom do seu amor e reflexo de sua generosidade.
             Sua confiança chega a tal ponto que distribui a cada um tantos dons quantos sejam necessários para o desenvolvimento harmonioso de cada ser em si e para produzir obras e atos que sirvam para o bem de todos os outros seres.
            E será que o ser humano confia em Deus? A Bíblia sagrada exorta para que ninguém duvide, mas sempre confie no Senhor: “Confia no Senhor e ele será o teu auxílio” (Eclo.2,6) “Quem confia no Senhor é feliz” (Pr.16,20) “Confiem sempre no Senhor, pois ele é uma rocha firme” (Is.26,4). E o salmista reza: “Em ti confio, meu Deus. Que eu não fique envergonhado, e meus inimigos não triunfem sobre mim” (Sl.25,2).
            É comum ouvir que todo o cristão confia em Deus. Mas parece que essa confiança não é tão verdadeira e nem sincera. Se o fosse não haveria a necessidade de consultar horóscopo, não haveria a necessidade de usar certos amuletos contra a inveja, a feitiçaria, o olho gordo e outros. Não haveria a necessidade de consultar adivinhos para saber sobre seu futuro e sua sorte
            Isso demonstra fraqueza de fé e falta de confiança em Deus. Quem confiar em Deus não necessitará de outros meios para resolver seus problemas e dirimir suas dúvidas. Deus não faz mal a ninguém, não castiga, não envia provações e não provoca catástrofes. Ele quer o bem, a alegria, a confiança e a paz para todos.
                                                                                  Frei Venildo Trevizan OFMCap                         

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

COERÊNCIA

      Coerente é alguém que demonstra concordância entre o que pensa e o que vive, entre o que propõe e o que cumpre, entre o que diz e o que faz. Coerente é alguém de tal forma transparente que todos admiram e respeitam.
      Não é fácil perseverar na coerência. A sociedade anda muito corrompida. Parece até que os mais bem sucedidos são os espertos. São aqueles e aquelas que fazem grandes propostas, maravilhosas promessas, mas não cumprem. São pessoas falsas e mentirosas. Disso todos sabem. Mas é difícil que alguém assuma a causa e imponha honestidade e coerência.
      Quantos e quantas emitem um juramento de cumprir rigorosamente o que a Constituição brasileira propõe e, em seguida, passam a desviar verbas, a elaborar projetos de interesse pessoal, ou partidário, a realizar obras que beneficiem as elites e correligionários. E esquecem os pobres e os oprimidos que os elegeram.
      Quantos e quantas proclamam um juramento solene de cuidar da vida preservando-a desde a concepção até sua morte natural, cuidar da saúde e bem estar dos pacientes. E depois cometem o crime do aborto, não atendem devidamente, deixam longas filas à espera. Outros facilitam a eutanásia, ou deixam morrer à míngua.
      Quantos e quantas, num dia de muita alegria, de muita festa e de muita emoção diante do altar, juram amor e fidelidade por toda a vida. Passado algum tempo esquecem, ou desprezam, esse juramento e passam a cobrar um do outro respeito, compreensão, companheirismo e diálogo. Surgem os atritos, discussões e brigas. Acontecem infidelidades e traições.
      Passam a não se entender, não se respeitar e não se suportar. Vem a separação. Para alguém poderá ser até um suposto alívio. Mas para outros será a destruição de um sonho, o desmoronamento de um amor e a crucificação de uma vida.
      Quantos e quantas, motivados pela fé em Deus e pelo desejo profundo de se entregar à vida de oração, de contemplação e de consagração a Deus, de trabalhar junto aos pobres e marginalizado, também fazem um juramento solene de viver na pobreza, na obediência e na castidade por toda a vida.
      Mas, com o passar do tempo, o entusiasmo esfria, a fé enfraquece, o desejo se esvazia e o trabalho cansa. Também abandonam aquilo que haviam assumido com tanto entusiasmo, com tantos sonhos e tantos projetos.
      Quantos e quantas dizem crerem em Deus, freqüentam igrejas, ou templos, e até alimentam devoções particulares. Mas maltratam empregados, não pagam salários justos, superfaturam mercadorias, realizam negócios enganosos, traem pessoas de confiança e enganam inocentes.
      Quanta incoerência! Penso em tantos e tantas que pedem a Deus saúde, riquezas e emprego. E, tendo tudo isso, se vangloriam como sendo unicamente conquista sua. Esquecem que tudo é presente de Deus e precisa ser partilhado com os mais pobres.
      É preciso ser coerente entre aquilo que se pede e aquilo que se promete a Deus.
      Frei Venildo Trevizan OFMCap

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A DIFÍCIL TAREFA DE PERDOAR

A vocação de todo o ser humano é viver estabelecendo relações de amor e de paz entre todos, de harmonia e entendimento com o universo e com a própria humanidade. E para isso se compromete a dissipar a vingança, a ira e o rancor criando um ambiente de perene reconciliação. Se alguém errar deveria reconhecer e buscar o perdão. E quem se sentiu ofendido deveria aceitar as desculpas e perdoar.
Esse seria o ideal para uma convivência harmoniosa e feliz. Esse é também o desejo de Deus para seus filhos e filhas. Mas não é fácil perdoar, como não é fácil aceitar que sem o perdão não há como viver a paz.
Ser “perdoado” todos querem. Mas perdoar aos outros torna-se muito difícil, pois exige uma transformação interior muito grande e uma fé muito viva e muito forte.
Deus sempre perdoa, pois o coração dele é feito de bondade e misericórdia. Seus gestos são de acolhida e salvação. Suas palavras são luzes constantes e firmes que dissipam a escuridão do mal e revelam a beleza do bem. Por isso ele sempre está pronto em acolher e oferecer novas oportunidades e novas chances de vida.
Tudo isso é belo e gratificante. Revela o coração maravilhoso de Deus. Revela também seu desejo de ver a humanidade celebrando o amor, o respeito, o perdão e a graça de uma vida feliz. Mas é difícil satisfazer esse seu desejo. É difícil fazer o mesmo que ele faz.
É desafiante aprender que perdoar quer dizer: abrir o coração para acolher a quem errou, ter disponibilidade em não conservar rancor contra quem causara essas contrariedades, ou essas situações.
O perdoar estabelece um passo a mais: esclarecer a quem errou que precisa estar mais atento para não retornar ao erro e recomeçar a construção de sua vida com mais dignidade e humildade. Esse passo exige uma coragem muito grande em superar o preconceito e a raiva. Exige exercitar corajosamente a humildade e a sinceridade.
Negar o perdão é um ato que violenta tanto que o espera quanto quem o poderia oferecer. Creio até que fere mais a quem o nega do que a quem o necessita. Pois o fato de negar deixa no coração uma dor profunda, uma mágoa dolorida e uma apreensão inquietante. Não encontra sossego e nem paz, pois o ódio e o desejo de vingar criam uma ferida praticamente incurável.
Só mesmo o dia em que tomar coragem e fizer algo mais humano e mais generoso oferecendo o perdão é que tudo se transformará. Não sou capaz de entender como possam existir pessoas capazes de conviver com o rancor, com o ódio em seu coração. Serão pessoas muito amargas e muito difíceis de conviver.
Será bem melhor procurar viver em paz com todos. Mesmo que não consiga criar ambiente ideal de amor e entendimento, que ao menos haja respeito com as diferenças individuais e que se faça o possível para não interferir na vida e no comportamento.
É bem melhor viver uma vida saudável transmitindo alegria, esperança e uma enorme satisfação em saber que o amor de Deus está disponível para todos.
Frei Venildo Trevizan OFMCAP