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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FELIZ QUEM ACREDITA

            Amo Maria. Ela acreditou na proposta que Deus lhe fizera e assumiu a missão de mediar a salvação da humanidade que vagava temerosa em meio às trevas da incerteza. Ela acreditou e se fez servidora. Embora convocada para ser mãe, preferiu agir como serva prestando seu serviço no silêncio e na humildade como expressão de sabedoria e maturidade.
            Apesar de ser jovem e aparentemente ainda não segura em suas decisões, demonstrou maturidade em suas convicções e em suas atitudes. Sempre soube corresponder às luzes do alto que iluminavam seu coração fortalecendo-o no amor e na dedicação de sua missão como mãe e coredentora, como intérprete das bênçãos divinas e semeadora de esperança entre os pobres e os enfraquecidos.
            Com sua presença silenciosa e humilde assumiu uma ação verdadeiramente corajosa e transformadora, dispersando os soberbos de coração, derrubando os poderosos de seus tronos, elevando os humildes, alimentando os famintos e despedindo os ricos de mãos vazias. (Lc.1,52)
            Essa mulher mudou a face da terra. Tudo o que pudesse prejudicar a alguém, ela recolhia para si e guardava no íntimo de seu coração. Até mesmo o sofrimento que, como espada de dor, traspassava seu coração e feria sua sensibilidade, ela conservava no silêncio.
            Como Maria, mãe do Redentor e mãe da humanidade, que soube corresponder à proposta feita por Deus em favor da humanidade, assim, hoje, ainda existem homens e mulheres que também acolhem com todo o amor essa mesma proposta e se consagram a um modo de viver diferente do comum da humanidade.
            São chamados de consagrados à vida religiosa tendo como alicerces de sua escolha os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência.
            São opções assumidas livre e conscientemente. Mesmo que nem todos consigam concretizar esse projeto de vida até o fim, mesmo assim existem os que conseguem. E o realizam com muita alegria e muita vibração e se sentem plenamente realizados em seus anseios de perfeição e de felicidade.
            Não é um caminho difícil. Não é uma decisão heróica, embora o comum da sociedade não entenda. É um caminho e uma decisão que envolvem muito empenho e convicção. É um modo de viver muito pessoal alimentado por exercícios de convivência com pessoas diferentes, com modos de pensar também diferentes. Mas com um objetivo comum: alcançar a plenitude da comunhão com Deus e com os irmãos.
            E esses que se consagram estão sujeitos a fraquezas, a erros, a tropeços de toda espécie. São seres humanos. São frágeis como todos. Se não buscarem o fortalecimento no espiritual, não conseguirão realizar seus projetos. E isso acontece em qualquer opção que o ser humano fizer. Exige renúncia e desprendimento. Não aversão, ou desprezo.
           Para os indecisos não haverá lugar na glória. Só pessoas decididas como Maria poderão cantar alegremente: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Pois o Todo-poderoso realizou em mim maravilhas e santo é seu nome” (Lc.1.46)
           
Frei Venildo Trevizan OFMCap

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MISSÃO SAGRADA

            Dia dos pais. Felizes aqueles pais que no aconchego do lar conseguem celebrar esse dia num abraço sincero, num presente merecido e numa convivência harmoniosa. Filhos orgulhosos dos pais. Pais orgulhosos dos filhos. Tudo motivo para uma grande celebração e uma maravilhosa comemoração.

            Esse é o ideal que poderia estar acontecendo em todos os lares, em todas as comunidades e em toda a sociedade. Mas nem tudo é festa. Nem tudo é alegria. Nem tudo está podendo ser comemorado com abraços e com presentes. Infelizmente são muitas as situações constrangedoras impedindo uma celebração mais espontânea e mais festiva.

            O orgulho leva muitos homens a se fecharem em seu egoísmo não permitindo que a família continue sua historia edificada sobre os alicerces do amor e da fidelidade. Provocam-se tantos atritos e desentendimentos que se torna inviável a convivência e o entendimento.

            Morre o respeito. Morrem as esperanças e também os sonhos. Morre o amor. Cada qual busca seus direitos e não aceita abrir espaço para a reconciliação e para o perdão. Triste situação que atinge e fere profundamente a sensibilidade dos filhos que acabam perdendo o rumo e a segurança em seus planos e em suas vidas.

            Onde estarão, hoje, os pais heróis e as mães heróicas? Pessoas que, mesmo no sacrifício, mesmo em tantas dificuldades no relacionamento, serão capazes de reencontrar a humildade para construir a reconciliação, o perdão e o amor?

            São desses homens e dessas mulheres que o mundo está precisando. Maridos e esposas que guardem sempre vivo o sagrado juramento assumido perante Deus e perante a lei dos homens. E façam desse juramento a razão de viver e a força de gerar filhos que sempre se orgulhem dos pais que os colocaram no mundo e lhes transmitiram tantos valores que os levarão a plenificar seus sonhos e seus projetos.

            Esta é a missão sagrada e conferida aos homens e mulheres que planejam perpetuar suas qualidades, seus planos e suas riquezas materiais, culturais e espirituais através de uma união estável e eterna. União essa que irá gerando novos sentimentos e novos planos. Tudo em favor dos filhos que anseiam por liberdade e realização plena.

            Esta missão é sagrada porque envolve um e outro no mesmo compromisso de transmitir segurança em seu caráter, firmeza em sua fé e perseverança em seus propósitos. Por mais dura e mais difícil que se apresente, sempre encontrarão meios para contornar os obstáculos, superar as barreiras e vencer as dificuldades.


             Um coração que ama verdadeiramente não se deixará enganar por ilusões e fantasias. Saberá buscar em Deus as forças necessárias para manter viva a chama do seu amor e a lembrança do dia em que diante do altar fez aquele juramento com voz embargada e o sustenta com fé e muita alegria.

            Não existem cursos que ensinem a ser pai. Não existem escolas. Não existem universidades. Existem tão somente experiências. Experiências pessoais que nascem da observação, da reflexão e da confiança em Deus.

              Frei Venildo Trevizan OFMCap

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Chamado a servir

     No calendário da Igreja o mês de agosto é celebrado como o mês das vocações. Oportunidade em que cada qual pensa em maior profundidade o cultivo de sua própria vocação. Vocação como um chamado a plenificar seus dons e seus projetos no caminho do aperfeiçoamento pessoal para melhor servir a comunidade.

     Nesta primeira semana celebramos a vocação ao sacerdócio assumido por homens decididos a renunciarem muitos dos valores que o mundo aprecia. Buscam dedicar seus dons a serviço do Reino de Deus.

     Sabem que a vocação não é um valor a ser manipulado em proveito próprio. Sabem que é uma proposta de Deus em favor do bem da comunidade. E quem cultivar e trabalhar apenas pensando em si, pensando em sua santificação, ou salvação, certamente estará se isolando e mesmo se fechando às graças de Deus. Estará fugindo do verdadeiro sentido da vocação.

     No Evangelho de Mateus há um fato marcante na vida e na missão do apóstolo Pedro: “Bem de madrugada, Jesus foi até os discípulos andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram ficaram apavorados e disseram: “é um fantasma!”. E gritaram de medo. Jesus, porém, disse: “Coragem, sou eu. Não tenham medo”. Pedro, então, lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir a teu encontro caminhando sobre as águas”. Jesus respondeu: “Venha!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água. Mas ficou com medo quando sentiu o vento. E, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me”. Jesus o tomou pela mão e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que você duvidou?” (Mt. 14,25-31)

     Pedro representa aquele sacerdote que pensa apenas em si. Exige que tudo gire em torno de seus planos e seu ponto de vista. Pedro podia, ou devia, pensar nos demais que estavam com ele na barca. E poderia sugerir que a todos fosse possibilitado ir ao encontro do Mestre caminhando sobre as águas. Mas pensou só em si. E afundou.

     Querer andar sozinho não é o melhor. Querer realizar um projeto de vida apoiando-se apenas em seu modo de pensar, em sua capacidade, é muito arriscado. Pode não dar certo. Pode provocar crises, divisões, decepções e muitas frustrações em sua comunidade. Caminhar com a comunidade, partilhar tudo com os demais, poderá ser mais demorado e mais difícil, mas será bem mais seguro.

     Conviver com pessoas diferentes, pessoas que tem outra maneira de pensar, pessoas que divergem no modo de agir e de fazer, poderá se constituir em exercício muito nobre e muito rico em experiências e em crescimento na convivência solidária. Aliás, o verdadeiro sacerdócio consiste nisso: estar disposto a servir e não buscar ser servido.

     No episódio de Pedro percebe-se o quanto ele foi egoísta e interesseiro. Talvez tenha pensado apenas em sair-se bem para depois vangloriar-se de mais uma aventura.
Esqueceu de sua missão como coordenador e animador da pequena comunidade dos apóstolos. Por isso, diante da primeira dificuldade (vento que soprou), gritou desesperado por socorro. Duvidou do Mestre que estava à sua frente. O perigo pode estar rondando os passos de muitos ainda hoje se não tiverem fé naquilo que se propuseram.

     Frei Venildo Trevizan OFMCap